terça-feira, 26 de maio de 2009


Cazuza / Só se for a 2PolyGram - 1987Só se for a doisEzequiel NevesDepois da combustão espontânea de EXAGERADO, fiquei temeroso. Falei com Cazuza: "Tudo bem...vamos pensar um pouco ?" Ele foi incisivo: "Não me venha falar em conceitos e outras babaquices. Detesto conceito. Arte,qualquer arte que seja conceitual pra mim é merda. Gosto de coisas para dependurar na parede, odeio instalações. Em música adoro ouvir qualquer bobagem e já sair cantando." Ponderei: "Tudo bem, mas depois de seu monólogo, me mostre as letras novas..." Ele mostrou e caí duro. As 12 letras inéditas eram um espanto e fixavam um "conceito" inconsciente, mas rigorosamente genial. O de que a gente só dá certo quando está a dois. Tudo começava com esta faixa "Só se for a dois" que imediatamente foi escolhida para título do disco. E havia também temas maravilhosamente românticos, como "O Nosso Amor a Gente Inventa (Uma História Romântica)", "Solidão Que Nada", "Completamente Blue" e a urgentemente antológica "Ritual". Odiando a seriedade, Cazuza sabia ser seríssimo e tremendamente reflexivo, resumindo nascimento, vida e morte de forma transcendental. Os versos de "Ritual" eram a própria história do ser humano enfrentando e compreendendo toda a solidão do mundo. Chamamos Nilo Romero para produzir e ele foi de um carinho e dedicação extremos. Cazuza e eu não tínhamos muito saco para agüentar horas e horas da masturbação que é um estúdio de gravação, Nilo era o oposto. Produzimos juntos e nunca vimos um artesão tão calmo e apaixonado. SÓ SE FOR A DOIS ficou lindo. Mas nesse ínterim a Som Livre resolveu acabar com seu cast, e o disco acabou sendo lançado pela Polygram que assinou contrato com Cazuza. Mil pontos para a Polygram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário