terça-feira, 26 de maio de 2009


Cazuza / ExageradoSom Livre - 1985Cazuza - ExageradoEzequiel NevesÀs vésperas de entrarmos em estúdio para gravarmos o quarto disco do Barão, em julho de 1985, Cazuza decidiu sair do grupo para seguir carreira solo. O fato era explicável; filho único não costumava dividir nada com ninguém e os atritos com os outros garotos já vinham acontecendo há vários meses: "the thrill is gone". Fui franco com ele: "Você é ótimo, mas a banda também é ótima. Fico com você e com o grupo". Ele arregalou os olhos, mas percebeu que eu tinha razão. Topou. Partimos então para a escolha das músicas de seu primeiro disco-solo: o Barão ficaria com metade do repertório do quarto disco, que ainda seria com o cantor e letrista Cazuza, e este com a outra metade. Isso incluia petardos como "Exagerado", "Mal nenhum", "Só as mães são felizes" (que posteriormente teve a execução proibida em todo o território nacional), "Cúmplice" e "Boa vida". Cazuza comporia, mais tarde, a obra prima "Codinome Beija-flor". Resolvemos entrar nos estúdios da Som Livre em setembro e procuramos Nico Rezende para assinar os arranjos e a co-produção musical. Nico já havia produzido conosco "Amor, amor", lado B do compacto "Bete Balanço" e quando lhe mostramos o material para o disco ficou pasmo. " O LP já está pronto, o repertório é um arraso"- falou. Mas não foi tão fácil assim.Nico, além de cuidar dos teclados, recrutou músicos excelentes, entre os quais Rogério Meanda, excelente guitarrista e que mais tarde, se tornaria parceiro de Cazuza. Rezende, porém, queria enfatizar os teclados e Cazuza e eu preferíamos encher o disco de guitarras. Foi o que fizemos, mas a discussão maior foi quanto ao arranjo de "Codinome Beija-flor". Reinaldo Arias, autor da música, fez um arranjo horrendo calcado num hit da época, o também horrendo "Maniac". Eu insistia em moldura super-romântica, uma balada acústica à base apenas de piano, violinos e voz. Nico achou um absurdo e disse que aquilo não podia ser mais pobre e antigo. Respondi que todos iam ficar de quatro com aquela simplicidade moderníssima. Cazuza concordou comigo, mas tive de dar escândalo, espernear para Nico concordar. "Codinome Beija-flor" era uma das letras mais geniais de Cazuza, sensível ao extremo, algo de um poeta da maior categoria. O fato é que além de "Exagerado" ter se tornado uma espécie de "grife" de Cazuza, "Codinome Beija-flor" transformou-se em um sucesso eterno.

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